Piracaia (SP) – A poucos dias do aniversário de 208 anos de Piracaia, celebrado em 24 de junho, a possibilidade de substituição do paralelepípedo por asfalto nas ruas do centro histórico da cidade desencadeou uma intensa polêmica. O debate, que envolve questões técnicas, ambientais e culturais, ganhou força nas redes sociais, com mobilizações, abaixo-assinados e protestos organizados pela população.
Segundo especialistas em arquitetura, exemplos internacionais reforçam a relevância de preservar pavimentos tradicionais. Cidades como Paris, na França, com suas ruas de paralelepípedo que conferem um ar histórico e romântico, e Roma, Itália, cujo centro histórico, Patrimônio Mundial da UNESCO, mantém calçamentos tradicionais, são referências globais. Edimburgo, na Escócia, e Praga, na República Checa, ambas também Patrimônios Mundiais da UNESCO, preservam paralelepípedos em seus centros históricos, valorizando identidade e história. Outros exemplos incluem Londres, no Reino Unido, com paralelepípedos na área da City; Hamburgo, na Alemanha, no boêmio distrito de St. Pauli; e Buenos Aires, na Argentina, no bairro de San Telmo. No continente americano, cidades como Zacatecas e Guanajuato, no México, Viña del Mar, no Chile, Montevidéu, no Uruguai, e até Toronto, no Canadá, no Distillery District, mantêm pavimentos drenantes. Vigan, nas Filipinas, outro Patrimônio Mundial da UNESCO, destaca-se por suas ruas de paralelepípedo, que atraem turistas. Até a década de 1990, Saskatoon, no Canadá, preservava paralelepípedos em cruzamentos movimentados, e Lille, na França, conserva esses pavimentos como parte de sua identidade. Essas cidades, reconhecidas por sua resiliência urbana, priorizam soluções baseadas na natureza, como pavimentos permeáveis, para enfrentar mudanças climáticas e gerir águas de forma sustentável, transformando-se em "cidades esponjas".
Em Piracaia, cidade turística conhecida por sua natureza exuberante e pela proximidade com mananciais que abastecem São Paulo, a manutenção do paralelepípedo no centro histórico é defendida como uma medida alinhada ao Plano Diretor, que prevê a permeabilidade do solo. Além do aspecto ambiental, o pavimento tradicional carrega valor histórico e cultural, atraindo visitantes que impulsionam a economia local. "Brasileiros admiram o velho mundo, planejam férias nesses lugares, mas se contradizem ao almejar o asfalto como sinal de progresso em suas cidades", criticam os especialistas.
A preservação de pavimentações tradicionais também encontra respaldo jurídico. Segundo artigo publicado no site Consultor Jurídico (ConJur) em 18 de setembro de 2021, que discute a proteção de pavimentações históricas em cidades de Minas Gerais, "as pavimentações urbanas antigas, como os paralelepípedos, integram o patrimônio cultural das cidades, sendo expressão da memória coletiva e da identidade local, o que justifica sua proteção legal". Essa perspectiva, aplicada a cidades mineiras como Ouro Preto e Diamantina, reforça a importância de manter o calçamento em Piracaia, não apenas por motivos ambientais, mas também como um compromisso com a preservação cultural.
A polêmica ganha contornos ainda mais complexos quando se considera a mobilidade urbana. Substituir o paralelepípedo por asfalto, segundo críticos, reforçaria um modelo centrado no automóvel, em detrimento de uma visão mais sustentável e integrada à identidade da cidade. "Piracaia, onde a água é protagonista, poderá se tornar apenas mais uma cidade que visa o automóvel como ponto focal de mobilidade urbana", alertam os especialistas.
Nas redes sociais, a população se organiza para defender a preservação do paralelepípedo. Abaixo-assinados circulam, e protestos estão sendo planejados, refletindo o engajamento comunitário em torno da questão. O debate, que mistura técnica, meio ambiente e identidade cultural, coloca Piracaia no centro de uma discussão maior: como conciliar desenvolvimento, sustentabilidade e preservação histórica em um mundo que enfrenta desafios climáticos cada vez mais urgentes.